Um dos vícios mais persistentes e prejudiciais à saúde: o tabagismo não é apenas uma batalha física contra a nicotina, mas também uma luta complexa contra o vício psicológico. A dependência emocional e os hábitos associados ao ato de fumar tornam o processo de largar o cigarro uma tarefa desafiadora para muitos indivíduos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), no Brasil são registradas 161.853 mortes anuais atribuídas ao tabaco, representando 443 mortes por dia.
Para alguns, o cigarro é um mecanismo de defesa; para outros, é um objeto de poder ou até um escudo para lidar com suas inseguranças. O professor de Psicologia do Centro Universitário Estácio São Luís, Gustavo Chaves, explica como o vício age no cérebro. “Há uma relação de recompensa que se estabelece entre a nicotina e a liberação de neurotransmissores específicos, como a dopamina e a serotonina, que são agentes químicos que possibilitam a troca de informação entre os neurônios. Esses neurotransmissores estão relacionados com a sensação de prazer, felicidade, concentração, motivação, dentre outras”, afirma.
Com a adaptação do cérebro à frequência da nicotina, são consumidas doses cada vez maiores para alcançar os mesmos efeitos prazerosos, o que leva à dependência orgânica. Então, retirar a substância não é uma tarefa fácil para o organismo. “A retirada ou diminuição do consumo gera respostas como irritabilidade, dor de cabeça, alteração do sono, dificuldade de concentração, indisposição. Há também uma tendência, relacionada com a compensação do estímulo oral, de comer mais. Assim como a dificuldade de lidar com a ansiedade e a tristeza”, destaca o psicólogo.
O hábito de fumar foi historicamente estimulado na sociedade. Antes, propagandas veiculavam o cigarro a figuras associadas ao esporte, ao espetáculo cultural, à indústria da moda, por exemplo. “Há, igualmente, o elemento afetivo da relação com o hábito. É muito comum os fumantes argumentarem que o cigarro é ‘um companheiro para todas as horas’, ‘que alivia a tensão e o estresse do dia a dia’, etc”, lembra o profissional. Mas, a comprovação da OMS é de que o cigarro é a maior causa evitável isolada de adoecimento e mortes precoces em todo o mundo.
Como vencer o vício?
Para vencer este desafio, em primeiro lugar, é essencial que a pessoa tenha em mente a sua dependência orgânica e emocional com o vício. Em seguida, é importante destacar que existem sim diversas estratégias para se desprender das amarras do tabagismo.
“Evite os gatilhos que estão associados ao hábito de fumar: avise amigos e familiares da sua decisão; evite situações estressantes; evite socializar com outros fumantes, ao menos por um tempo; encontre substitutos para a dependência oral como chicletes e balas; busque informações sobre as consequências do consumo; faça o uso orientado de medicações específicas de liberação gradual de nicotina; pratique atividade física regularmente; contabilize os gastos com o vício do tabaco; crie metas claras para a redução; crie reforçadores positivos sempre que você alcança-las; busque ajuda médica e psicológica”, finaliza o psicólogo.
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